Fernando Augusto Almeida Neves

Pesquisar este blog

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Computadores que fazem arte

Como plataformas abertas ajudaram um engenheiro a transformar enormes pacotes de dados em um mapa detalhado com todos os rios dos EUA
por Murilo Roncolato
 
O mapa criado pelo engenheiro com enormes pacotes de dados (foto: reprodução)
Nelson Minar é um engenheiro de software graduado da turma de 1996 do Media Lab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. Lá teve aulas com o designer John Maeda, que abriu sua mente em relação à beleza que pode surgir de coisas tão áridas como gigantescos pacotes de dados. Trabalhou por algum tempo no Google, especificamente com a parte de programação do AdWords, a fonte de riqueza da empresa, mas deixou Mountain View ainda em 2006. 

Desde que largou o emprego fixo, começou a se atirar em projetos diversos - mas, como princípio, adota a diversão como elemento essencial. É desse propósito que o All Rivers nasceu. Afinal, desenhar todos os rios do 4º maior país do mundo soa como uma tarefa bem divertida (veja o mapa com detalhes). Certo? 

Minar uniu uma quantidade enorme de dados sobre os rios americanos, os categorizou por tamanho, delimitou a forma de cada um e botou tudo no papel. O engenheiro se inspirou em outro projeto do designer formado no MIT Ben Fry. Trata-se do All Streets, no qual se mapeia cada uma das ruas dos Estados Unidos. 

Conversamos com Nelson Minar para saber mais sobre como se divertir fazendo arte.

Big data pode transformar o modo como artistas digitais trabalham? 
É interessante trabalhar com big data. Primeiro porque big data geralmente descreve algo significativo em si: as causas de doenças e da pobreza no mundo, ou as complexas transações financeiras que definem a estrutura da economia mundial, ou, no meu caso, o formato da rede fluvial EUA. Em segundo lugar, big data geralmente tem uma beleza e uma complexidade inerente, é um desafio interessante encontrar as texturas escondidas nos dados e torná-los visíveis e bonitos.

Seu projeto se inspirou no All Streets do Ben Fry? Qual a importância de trabalhos como o de vocês, de visualização de dados? 
Sim, eu adoro esse projeto porque dá às pessoas permissão para fazer exclusivamente uma coisa: visualizar um conjunto grande de dados. Apenas desenhe todas as ruas, pode ser lindo! Meu mapeamento de rios começou quando gerei cuidadosamente os dados de alguns rios, talvez algo como os 200 maiores em uma única página, para fazer a coisa direito. Mas então eu pensei em tentar desenhar todos os rios numa única página e... ficou bonito! Claro que nunca é assim tão fácil, há um pouco de arte envolvida no processo de renderizar as coisas da maneira certa. No meu caso, foi sobretudo escolher a espessura de risco apropriada. 

Se alguém quiser construir um desses mapas, mas baseado em ruas, rios ou qualquer coisa do Brasil, o que é preciso fazer? 
A primeira coisa que você precisa é dos dados. Para ruas, um excelente lugar para começar é o OpenStreetMap (OSM), o serviço de mapas gratuito. O conjunto de dados da OSM é muito grande, por isso seria uma boa ideia começar com um conjunto menor de dados, para desenvolver as idéias e rodar tudo em um software. Por exemplo, você poderia facilmente baixar dados sobre São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília nesta base de dados.

Uma vez com os dados em mãos, você precisa de um software para trabalhar. Se for usar no desktop, muitas pessoas usam o comercial ESRI ArcGIS ou o software livre Quantum GIS. O principal objetivo do meu projeto é ensinar as pessoas a se iniciar no mundo dos dados geográficos e transformá-los em mapas, como os que você vê no Google Maps, todos gerados com programas abertos. As principais ferramentas que usei foram PostGIS para armazenar os dados, TileStache para subi-lo para a web e D3 e Folheto para desenhá-los no browser. Há muito mais informações sobre esse processo em disponíveis no Github. 

Tem algum outro projeto que você se orgulha de ter feito? 
Fiz um há alguns anos que é A História do Vento. Ele mostra os ventos predominantes em vários lugares dos Estados Unidos, principalmente nos aeroportos. Eu o construí porque piloto aviões também e sempre me interessei em entender como os ventos variam em torno dos lugares que voo. Infelizmente, é um mapa que cobre apenas os EUA, pois não tive acesso a dados internacionais na época – hoje eu acredito que eles estejam disponíveis. Se você, assim como eu, tem interesse em ventos, faço o convite para ver esse Mapa do Vento incrível. É muito mais bonito do que o meu e foi feito pela brasileira Fernanda Viegas, que estudou comigo no MIT. 

Tem algum outro projeto em vista? 
Ando particularmente interessado pelo mundo open source. Existe um universo gigantesco de dados geográficos livres para uso e também uma variedade enorme de códigos abertos para se trabalhar. Há muita coisa divertida ainda para ser feita. 

http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI339748-17770,00-COMPUTADORES+QUE+FAZEM+ARTE.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário